O grande sábio Hakim-Mansuri vivia em Balkh, na Ásia Central. Ele tinha milhares de discípulos e bastava sua presença na corte de um rei para confirmar a legitimidade do poder local.
Era raro que Hakim falasse, e quando ele abria a boca, era para falar de coisas que pareciam sem ligação com o domínio espiritual. E portanto, numerosos eram os grandes mestres do Caminho sufi que atribuíam seus conhecimentos ao único fato de se terem sentado à sua mesa ou de se terem hospedado em sua hospedaria, ou mesmo de terem feito algo com seus discípulos ou simplesmente trabalhado em sua casa.
Um dia, um célebre orador lhe lançou o desafio de debater com ele questões filosóficas. Este homem pretendia que Al-Mansuri ignorava tudo sobre sabedoria e que se ele abordava tão raramente os grandes problemas, era simplesmente por que não sabia nada.
Al-Mansuri se foi para Herat. Seu provocador, Qari Mukhtar, ensinava em um ilustre colégio da cidade. Cada um dos antagonistas estava acompanhado por várias centenas de seus alunos vindos com a multidão dos habitantes de Herat para assistir ao duelo dos dois gigantes.
Qari abriu o debate. Ele fez preceder seu discurso de uma fala cuidadosamente preparada que preludiava, com toda evidência, um ataque geral.
Então, repentinamente, Hakim se levanta e aponta um dedo na direção de Qari, que ficou como que petrificado e parou bruscamente de falar. E Hakim deixa a sala.
No caminho de volta, um de seus discípulos perguntou ao mestre, o qual havia sido esfusiantemente aplaudido pelo feliz auditório.
– Porque tu preferistes paralisar este homem em lugar de refutar seus argumentos?
– Se você tem uma espada na mão – disse Hakim – você vai atacar o adversário com punhados de terra? Nem mesmo um macaco discutiria se pudesse fazer algo mais eficaz. Este homem queria me vencer no debate, ele não queria descobrir a verdade.
Extraído do livro: Buscador da Verdade – Idries Shah